SÉRIE DIÁLOGOS: JOSÉ VICENTE DE AZEVEDO E DOM ORIONE

POR: MVA

Muitas pessoas que percoreram o caminho da santidade conheceram, viveram ou ao menos visitaram o bairro do Ipiranga e as obras sociais que aí se localizavam. Uma delas foi o padre italiano Dom Luís Orione, que dedicou integralmente sua vida aos mais humildes e necessitados.

Aluno de São João Bosco, logo após se tornar sacerdote, fundou uma congregação religiosa chamada "Pequena Obra da Divina Providência". Ele não trabalhou apenas em seu país de origem, mas também esteve na Argentina, Chile e no Brasil. Chegou a São Paulo pela primeira vez em 1921; na ocasião foi recebido pelo padre Faustino Consoni, no Orfanato Cristóvão Colombo e assim conheceu o bairro do Ipiranga.

Uma estranha coincidência fê-lo encontrar com o José Vicente de Azevedo a quem apresentou-se. Curiosamente não tinha bagagem, nada tinha de material ou dinheiro, somente levava um pedaço de pergaminho onde se lia em latim: "Aos patriarcas, arcebispos, sacerdotes e fiéis da Igreja...tudo o que for feito ao sacerdote Luigi Orione, da Divina Providência, a mim o fareis...estava assinado pelo papa Bento XV."

José Vicente convidou Dom Orione para ir até sua casa e explicou-lhe que desejava criar uma obra a que chamou Oficinas de São José, destinada ao abrigo e profissionalização de meninos carentes. Entusiasmado com o projeto no Ipiranga Dom Orione se comprometeu a dar início à obra, porém inúmeras dificuldades e obstáculos impediram a sua concretização.

D. Orione visitou outras vezes São Paulo para incentivar seus missionários e acompanhou as obras do Conde. Na última ocasião, em 1937 ele chegou a celebrar uma missa para os meninos e meninas atendidas pelo Asilo/Orfanato e pelo Grupo Escolar São José. Deixou escrita uma linda mensagem no livro de visitas da Fundação: "Vos agradeço, ó meu Senhor, que hoje me tendes dado a grande alegria do espírito de celebrar a S. Missa na Colina histórica e gloriosa do Ipiranga, e de falar a vossa palavra evangélica a algumas centenas de crianças recolhidas no vosso nome. Tenho também visto e admirado tantas instituições cristãs e benéficas a favor especialmente dos humildes e dos pequenos, a favor dos filhos do povo. E tantas pessoas, inteligentemente boas que desenvolvem um grande apostolado de bem: tudo isso vi."

Em vida, encontrou muitas dificuldades e empecilhos burocráticos pelo caminho, porém profetizou: "O que não fiz pelo Brasil nesta terra, o farei no céu".

Dom Orione morreu em 1940 já com fama de santidade, foi beatificado em 1980 e canonizado em 2004 pelo Papa João Paulo II.

Hoje em dia os irmãos e irmãs orionitas fundaram e respondem por muitas obras sociais e assistenciais. São escolas, faculdades, casas de repouso, igrejas – como a de Nossa Senhora de Achiropita no bairro do Bixiga – e o Pequeno Cotolengo, a obra de caridade mais característica e impactante desses religiosos, cujo fundador foi São Luís Orione.